Por Rodrigo dMart
Toda viagem nos transforma. A cada passo, uma revelação. A criação não tem limites. A arte se manifesta. Sempre há um caminho. O lance é arremangar as mangas e trabalhar. Tem um monte de gente a fim de fazer.

Foi a sensação de fazer parte da primeira edição da QuantaCon, evento organizado pelos ilustradores Marcelo Campos e Rafael Coutinho, em abril, em São Paulo. Junto com Indio San, parceiro na graphic novel “Um Outro Pastoreio”, participei de uma palestra sobre adaptação literária, ao lado do quadrinista Spacca.

Com a mediação do pesquisador e jornalista Paulo Ramos, apresentamos o processo de criação e de lançamento de nosso livro. Ao mesmo tempo, tivemos o imenso privilégio de conhecer o belo trabalho de Spacca na criação de “Jubiabá”, adaptação da obra do escritor Jorge Amado.

Uma verdadeira aula. Cartunista, chargista, com passagem pela publicidade e jornais como a Folha de São Paulo, Spacca é “nego velho”, com mais de 30 anos de carreira nas artes gráficas. Ele é autor de “Santô e os Pais da Aviação” e “D. João Carioca”, lançado pela editora Companha das Letras, entre outros.

Das alternativas destacadas durante o bate-papo com Ramos e Spacca, foi a distribuição de livros através do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Ação desenvolvida desde 1997, pelo Ministério da Educação, que deve distribuir livros para 147 mil escolas públicas, em 2012. Desde 2006, o programa passou a incluir as histórias em quadrinhos com tiragens na casa dos cinco dígitos que, mesmo com livros vendidos a um preço de capa menor, geram bons rendimentos para editoras e autores. Foi o caso de alguns títulos de Spacca. O PNBE é um dos motivos de impulso de lançamento em adaptações literárias e biografias de autores nacionais em quadrinhos nos últimos anos.

QuantaCon é um evento que surge como um espaço de agregação, reflexão, educação na área de quadrinhos em São Paulo; com isso, se diferenciando do Troféu HQMix, o “Oscar dos Quadrinhos Nacionais”, ou festivais como o Rio ComiCon, do Rio de Janeiro, ou o FIQ, Festival Internacional de Quadrinhos, de Belo Horizonte. QuantaCon nasce para somar no crescimento da arte sequencial no país. Nesse início de jornada, o evento reuniu cerca de mil pessoas, entre os dias 21 e 22 de abril, em um final de semana chuvoso na capital paulista.

Se, nas últimas décadas, no mundo, as histórias em quadrinhos alçam o reconhecimento em termos de público, mídia e mercado; na mesma medida, os criadores nacionais – desenhistas, escritores, arte-finalistas, ilustradores, coloristas – começam a “experimentar a possibilidade de viver dignamente trabalhando” com a Nona Arte no Brasil e exterior. Artistas lançam obras de diversos estilos, formatos e gêneros, sejam através de editoras, editais, publicações independentes e alternativas surgidas na internet. Uma nova indústria que se fomenta.

Lado a lado, quadrinistas iniciantes e consagrados estão lá vendendo seus gibis, botons, cartazes autografados, cartões postais, camisetas e o que for possível. Uma oportunidade para que o público tenha contato com seus artistas prediletos e descubra novos talentos.

São gerações de autores e escritores como Laerte, Lourenço Mutarelli, Fábio Zimbres, Guazelli, Fernando Gonsales, Lobo, entre muitos outros. Mas nada de celebridades. Os artistas transitam no meio de público e quadrinistas novatos atendendo a todos com tranquilidade.

Lá estavam também Fábio Moon e Gabriel Bá, multipremiados mundo afora, incluindo o Eisner Awards, o “Oscar das HQs”, em 2008. Os gêmeos autografaram diversos trabalhos, como o recente “Daytripper”, publicado inicialmente nos Estados Unidos e lançado no Brasil, no final de 2011.

Interessante foi saber que eles circulam pela San Diego Comic-Con, a mais afamada convenção de HQs dos EUA, desde 1997, e já publicam quadrinhos por lá, desde 1999, como é o caso de “Rolando”, graphic novel criada em parceria com o roteirista norte-americano Shane Amaya.

Ou seja, são muitos anos de estrada para conquistar um lugar ao sol. E, como dizem, seguem “ralando”.

Conheça um pouco mais sobre a produção atual de quadrinhos na QuantaCon:
- As coletâneas Samba 2 e Prego.
- Gustavo Duarte e suas HQs animais: “Birds” e “Taxi”.
- O “lampião Mad Max”, de Flávio Luiz.
- Os super-heróis de Renato Guedes.
- Alternativas de lançamento em episódios de Rafael Albuquerque e Rafael Coutinho.
- Ficção científica, erotismo, existencialismo e teatro em quadrinhos.
Muito bacana, Rodrigo! Falta um evento assim por aqui… Grande abraço e sucesso!