por Yara Baungarten
Participei, a convite dos mestres Luciano Alfonso e Newton Silva, de um debate no programa Estação Cultura, na TVE do RS. A pauta eram as maneiras de solucionar a falta de dinheiro privado/investimento público/leis de incentivo e concretizar projetos, ou seja, alternativas da sustentabilidade da cultura.
Sentou-se à mesa comigo e com Newton a bailarina Juliana Vicari, do projeto Pulp Dance, que usa colaborações via internet para realizar um temporada de três dias em Porto Alegre. Durante o bate-papo, fui me dando conta que ser artista é criar, mas também planejar e executar um projeto artístico. Depois de ter a ideia, a tal concepção da obra, colocar em prática a criação é o passo seguinte. Um acorde, uma página, um traço, o que for, o artista vai criando.
E quando se dá conta, passa o tempo, às vezes anos, para que essa criação ser considerada pronta para o lançamento. E vem as questões de como lançar, apresentar, inaugurar essa criação. Para isso, a necessidade é, acima de tudo, o dinheiro. Como fazer para financiar esta proposta, para que ela possa ser disponibilizada e que com isso eu-artista tenha retorno: reconhecimento e pagamento?
Somos, na Imagina e na DSLAB do Indio San, um case de sucesso por conta do livro Um Outro Pastoreio. dMart e Indio passaram por cinco anos e quatro versões para chegar aos finalmentes da produção literária. E sentaram em muitas cadeiras de editoras e muito os meninos babaram em gravatas empossadas para tentar apoio a uma ideia que, agora publicada, tem tido retorno pela inovação na linguagem narrativa e visual, fala de folclore e mitologia brasileira, além de eles proporem que mais da metade das tiragens financiadas fossem destinadas a instituições de ensino e bibliotecas. Se isso não é retorno de interesse público, fico na dúvida de o que mais possa ser.
Mas enfim, tanta aposta tinha que ser concretizada. Auto-financiamento? Pagamos nós mesmos para ver?
O risco dessa opção é alto, ainda mais se pensarmos em literatura, ramo no qual a recompensa financeira é muito dispersa, podendo levar anos para que uma tiragem se esgote. Daí, advinda da experiência do dMart, foi posta em prática a proposta da Ação entre Amigos, que deu certo, e assim editou-se, imprimiu-se e distribui-se os livros para os editores cotistas. Todos felizes, distribuição nacional, ótima repercussão na mídia e 1000 exemplares quase acabando.
Agora, nossa singela ação entre amigos tem nomes mais pomposos, e talvez mais adequados: somos um open business e fazemos parte de uma rede que financiamento colaborativo para dar suporte a seus projetos. Uau! Mais felicidade ainda! Nosso micro-financiamento é crowdfunding e a gente não sabia!!!!
O site catarse.me, citado junto com o Um Outro Pastoreio na matéria da revista Galileu, foi colocado no ar há pouco tempo e já ajuda a concretizar esses financiamentos em massa, com possibilidade de pagamento com cartão de crédito, via web, ou boleto bancário. A proposta da Juliana passa por esse mecanismo, assim como outras ideias, com temas como jornalismo, literatura, teatro, design, artes plásticas. Tem também o kickstarter.com, com a mesma iniciativa, só que em dólares. Em ambos endereços, tem as explicações de como formatar um projeto para pleitear ajuda e como financiar as propostas alheias.
Nós, em breve, vamos experimentar dessa cachaça e ver como a rede de colaborativismo cultural anda funcionando. Apenas com a ressalva que no Brasil ainda não se remuneram as ideias, os conceitos, os insights e as criações originais. Precisamos fazer com que esta etapa da produção também seja mensurada, deixando de considerar isto como “contrapartida do proponente” e não dando a ela seu devido valor. E que fique bem claro que falamos de VALOR MONETÁRIO!
Isso não exclui, é claro, articulações, parcerias, permutas e ações solidárias que sempre são importantes para auxiliar a ideia a se tornar real.
Independentemente de um caminho A, B ou C (ou a soma deles) que for escolhido para viabilizar o projeto, quando este se concretiza, a minha opinião é que o artista precisa se preparar para prosseguir estimulando e trabalhando sempre para a longa vida desta criança. Como falam os personagens do espetáculo Tangos e Tragédias: – Vocês pensam que esta história se estanca por aqui?
– Não!
Tempo, paciência, perseverança, dedicação, fé… tudo junto!
E no final de tudo, deixa que a cantora Bethânia trabalhe com seus parceiros para fazer o blog mais lindo e baiano do país (e talvez do planeta).