RECONTO, parceria do ilustrador e designer Indio San com o escritor Rodrigo dMart, é uma adaptação do livro ilustrado Um Outro Pastoreio, lançado pelos autores, em 2010. O primeiro fascículo de RECONTO está disponível para leitura e download gratuitos em formato PDF via Dropbox e no ISSUU, nesta quinta-feira, 20/11, a partir das 16h.
Indio San comenta sobre o processo de criação da história em quadrinhos RECONTO. Leia abaixo o texto do ilustrador publicado originalmente no evento criado no Facebook para o lançamento da HQ.
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A maioria dos convidados aqui são velhos amigos, não queria ninguém menos que vocês pra compartilhar o lançamento desse trabalho. Significa muito pra mim, obrigado!
Quis fazer tudo isso de maneira online, pois seria o único lugar onde conseguiria reunir e dividir com todos vocês um pouco do processo, sem alterar a rotina de ninguém.
Esse é um trabalho que iniciou em 2005, quando eu e o vizinho Rodrigo dMart compactuamos de desenvolver uma história em quadrinhos. Estávamos completamente verdes, éramos apenas fãs da linguagem, mas, por sorte, cruzamos muitos mestres no caminho, que orientaram, incentivaram e nos puniram pra não perdermos o prumo.
Nesse mesmo ano, encontramos nossos personagens e começamos a desenvolver o ambiente, fazer as conexões narrativas, algumas delas aconteceram de maneira espontânea, e outras foram confirmadas em um terreiro de umbanda, durante uma pesquisa in loco.
Nosso método foi deveras aleatório, começamos misturando imagens e texto, fomos editando e construindo a história até montarmos um piloto de um livro com 60 páginas, que era uma proposta de volume razoável pra dois iniciantes. Mas a história que tínhamos já não cabia mais ali, não seria assim, tãão simples!
Então, em 2007, recebi do dMart um romance de 90 laudas, foi foda! Na época pesou 1 tonelada. O texto era maravilhoso, carregado de uma narrativa muito descritiva, quase que não cabia imagem ali. Era uma obra completa em si. Literalmente eu estava lascado, pois sabia que pra adaptar pra HQ, iria pelo menos triplicar o número de páginas, e tinha um panteão de personagens pra criar.
De uma “modesta” ideia – vamos fazer um gibi – agora eu tinha uma missão de fazer uma saga sem fim. O pacto estava firmado e não dava mais pra voltar atrás.
Precisei buscar minhas motivações artísticas, entender todo o meu processo, discutir internamente as práticas que eu estava estudando (puppets, stop motion, fotografia, pintura, design), revisitando a infância, relendo meus quadrinhos, revendo minhas animações prediletas, selecionando e aprimobelzurando a energia pra pôr nesse trabalho, seria um caminho muito longo e muita energia precisava ser canalizada em um foco. Eu queria misturar tudo aquilo. Queria uma linguagem única, algo incomum pras histórias em quadrinhos. Mas antes precisava nascer um autor em mim.
Foram mais três anos desenvolvendo os bonecos, cenários, fotografando, editando, experimentando estéticas, passando por pelo menos quatro formatos de edição, todas elas eram quadrinhos, mas estavam pesadas o texto e a imagem brigavam. Eram todas lindamente densas, porém difíceis, não funcionavam.
Até que chegamos a Um Outro Pastoreio, em 2010, o 5º formato, um híbrido que misturou um pouco de arte sequência, com poesia e romance, 208 páginas. Lançamos através de um financiamento coletivo, do qual muitos de vocês participaram, conseguimos realizar uma parte do sonho. Tínhamos um livro bonito, viajamos, divulgamos, conseguimos espaço nas principais mídias do país (MTV, Rolling Stone, Multishow, RBS TV…) vendemos 1000 cópias em pouco menos de 1 ano, contrariando o que todas as editoras que conversamos haviam nos dito.
Mas!… ainda não tínhamos uma história em quadrinhos!
Então nos últimos 4 anos, segui o trabalho recluso, em silêncio, escondido de minha esposa, dos meus amigos e até mesmo do meu parceiro dMart. Eu não suportaria ninguém dizendo: “De novo? Parte pra outra!”. Só eu sabia o que estava procurando, mas ainda não tinha clareza pra fazer acontecer.
Foi um segundo momento, de digerir tudo aquilo que já havia feito, sofri tentando entender porque eu havia desistido de cada uma daquelas edições, já havia se passado muito tempo. Fiquei cutucando a ferida.
Fiz mais algumas edições frustradas tentando resumir a história reaproveitando o que eu já tinha feito, continuava não funcionando. Pra funcionar em quadrinhos precisaria limpar o texto sem perder a intenção das palavras, as imagens teriam que ser tão bem descritas e ambientadas, como estavam na novela original. Não seria apenas cortar as palavras ou suprimi-las, teriam que ser substituídas por imagem.
Então foi só esse ano, quando decidi dividir a história em 6 capítulos, no primeiro momento com a intenção de criar um relacionamento mais longo com os leitores, que percebi como ela poderia fluir mais leve. Que ficaria mais fácil não só ler e absorver a história, mas também redesenhá-la, pois conseguiria dessa forma parcelar também a reconstrução da obra.
Obrigado Rodrigo dMart pela parceria e por esse texto massa pra caralho, que foi sofrido cortar, mas editar foi preciso, e agora definitivamente temos nossa história em quadrinhos, compay.
É neste quinta-feira, Dia da Consciência Negra, que escolhi libertar o “Negrinho do Pastoreio” preso na gaveta do estúdio!
Obrigracias compadres!
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Saiba mais RECONTO e a graphic novel Um Outro Pastoreio.


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