A pedido de alguns amigos, republico aqui um texto sobre a história da música de Pelotas, minha cidade natal. Escrevi originalmente este material, em 2005, para uma coluna de cultura que publicava em um portal regional que, por mais que tente, não lembro o nome. É um artigo mezzo pessoal, mezzo documental. Editei alguns trechos e teci comentários atualizados em outros. Não é um trabalho aprofundado. Espero que sirva para refrescar a memória de alguém. Na época, eu pretendia escrever um livro sobre a história da música pelotense entre os anos 1970 e 2000. Um projeto que algum dia talvez possa vir a realizar (alguém aí se habilita?).
Sempre considerei Pelotas uma cidade de criadores. Um espaço de gênese. Muito disso, se dá por conta pelo fluxo constante de estudantes, professores e pesquisadores que circulam pelas universidades. Daí, surgem naturalmente bares, boates, festas, festivais. Um pequeno circuito local… Um universo boêmio. Um terreno fértil. E aqui traço paralelo com cidades como Recife ou Seattle (incluindo a umidade, as chuvas constantes e o clima melancólico).
Um tanto desta resistência (ou persistência) das artes – penso – ainda é reflexo do apogeu cultural que a cidade vivenciou no final do século XIX (no qual era responsável pela maior parte do PIB do Rio Grande do Sul) e na primeira metade do século XX, uma economia alicerçada na indústria do charque (e do trabalho escravo) e da agricultura. Um panorama atropelado pelos avanços tecnológicos e pela globalização. Mas que gerou teatros (Theatro Sete de Abril, Teatro Guarany), uma arquitetura eclética inspirada na Europa, bibliotecas, orquestras, poetas, escritores… e muitos compositores e músicos.
A partir dos anos 60 e 70, Pelotas empobrece e passa a sobreviver do comércio e do setor de serviços. Por diversos motivos, muitos destes artistas acabam circunscritos ao espaço desta aldeia, não encontram espaço e mercado para expandir. Nunca registraram suas obras em partituras, discos ou programas de televisão. Um polo regional longe demais das capitais.
Bueno, vamos lá!
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CANTE E CONTE A ALDEIA
Uma aldeia sem história não tem identidade, não tem raízes. Mesmo a tradição oral pode cair no esquecimento, ludibriar detalhes e nuances importantes. E um povo sem memória corre o risco de ter que inventar a roda o tempo todo. Vejamos a história da música de Pelotas, digamos, dos últimos 30 anos. Quem é que conhece? Eu não. Sei poucas e esparsas histórias que ouvi ou que vivi.
Um rápido check-up. Nos início dos anos 70, grupos de baile, inspirados, na jovem guarda e no então nascente rock’n’roll, eram a febre nos bailes da gurizada: Santos, Los Lobos e outros. Segundo me disse um dos integrantes do Los Lobos, o hoje massoterapeuta Deloi (já falecido), no auge da carreira, a banda chegou a viajar para Porto Alegre de Rolls Royce. Vejam só! Ainda nos 70, outro destaque seria, é claro, a gênese dos Almôndegas, grupo formado pelos irmãos Ramil (que se bandearam para Porto Alegre e para o mundo), Quico Castro Neves, Pery Souza, Zé Flávio e companhia. Para quem não conhece, o grupo fez um genial trabalho de fusão entre folk, rock e elementos regionais que alcançou status nacional.
Pulamos para os anos 80, onde fico mais à vontade, pois já era um piazito. Meus irmãos, Joca e Negrinho Martins, iniciavam a tocar. Acompanhei de perto o boom do nativismo. A proliferação de festivais gauchescos em todo o estado. Vadiava mateira, boina e alpargata. Exemplo disso: até colégios criavam festivais. O colégio Gonzaga (onde estudei o 1º e 2º graus) criou a Charqueada da Canção (que durou diversas edições com lançamento de LPs e discussões acaloradas sobre o que seria ou não música regional). O colégio Santa Margarida fez um outro que, se não me engano (aí está o que comento sobre a perda da memória), chamava-se Festival Interestudantil, aberto a todos os estilos musicais. Teve também o Fecompe, Festival de Música Contemporânea de Pelotas, que rolou na boate Verdes Anos, lá pelo meio da década.
Aí pintava todo aquele embate de compositores e instrumentistas querendo inovar; outros, conservar; outros ainda, na turma do tanto faz, desde houvesse um palco para tocar. O legal é que fervilhava a criação. Também era o auge do San Remo, grupo de baile onde tocavam os irmãos multi-instrumentistas Tuniko e Giovane Goulart. Dupla que acabou criando a Escola de Estudos Musicais Milton Nascimento. Aí foi local onde iniciei a estudar bateria, em 1988, e foi berço e ponto de encontro de muitos músicos na época: o pessoal da Brigada Militar, roqueiros, românticos, malucos, sambistas e outros istas.
De sopetão, lembro do cantor e compositor Basílio Conceição, o baterista Tony McCarthy, o violonista Pedro Di Azz, o flautista Gil Soares, o controvertido Caboclo (atual Edu daMatta), grupo Quintal de Clorofila, Regina Bainy, Glênio Coelho, Kininho Dornelles, Greice Morelli, Javier Mendez, Keke (Ernesto Martinez), Hélio Mandeco, Jucá de Leon, Sílvio Castro, Celso Krause, grupo Cambará e muitos outros. Bateristas, cantores, arranjadores, letristas… Bá! Um mundaréu de gente.
Mas a coroação da década foi mesmo com o festival LatinoMúsica. Simplesmente, Pelotas se tornou o foco de atenção da música e da cultura latino-americana. Shows, seminários, debates e muita música rolando pelos teatros, colégios e bares da freguesia. As duas edições do festival (vale salientar que ocorreram na base de envolvimento da comunidade, escambos, parcerias e patrocínio direto, antes da criação das leis de incentivo), em 88 e 90, propiciaram espetáculos de figuras como Chico Buarque, Mercedes Sosa, Antonio Tarragó Ros, Belchior, Larbanois-Carrero, Luiz Melodia, e dezenas de artistas do estado como Elaine Geissler, Vitor Hugo, Luiz Carlos Borges, Tambo do Bando, além dos artistas e bandas locais como Silvio Castro e Bando de Sandino (projeto coletivo do então Caboclo que chegou a gravar o LP independente “Gibi”), entre outros.
Nesse período, no pop rock, o maior destaque, certamente, era a banda Procurado Vulgo que venceu o 1° Circuito de Rock, promovido pela RBS TV. Na formação original, Índio, Cabeça, Kako Xavier e Fábio Cruz, o Tela. A banda chegou a se mudar para Porto Alegre e gravar um EP. Outro destaque desta cena foi a banda Pós Antes que também lançou um disco. Mas havia muitos outros. O caldeirão fervia. Parecia quase um sonho.
E era. Na virada para os anos 90, o caldo azedou. A era Collor afugentou e calou o sonho de muito artistas. Muitos foram para a Europa. Outros desistiram. Alguns resistiram. Período medíocre. As bandas covers eram o hit do momento. Dá-lhe lambada e grupos de dança de acid house. Mesmo assim, pululavam bandas de rock como a Blues With Feeling, Rerum Novarum, Seu Vigário, Caminho Oculto, Giz de Cera (grupo de MPB que participei como baterista, aos 15 anos), Attro e dezenas de outras bandas.
Aí surge o Nirvana, arrasa-quarteirão global. Rola a mudança de postura da gurizada. Surge uma nova geração. Referências mais multifacetadas. E adiós de vez aos solos de sax, à fumaça e ao neon dos anos 80. O mundo é um porre. Viva a misturança, a ironia e a contradição. E ainda é um tempo pré-internet. Neste cenário, bandas como a ultracriativa The Men-TZ furavam o cerco (sempre acreditei que se eles tivessem se mudado para São Paulo teriam sido um sucesso tão grande quanto Raimundos, Mamomas Assassinas etc). Rolavam também Caso Contrário, Divergentes, Rockanalha (banda de rockabilly no qual também toquei bateria), a eterna metaleira Attro, Orca – A Banda Assassina, Exilados da Capela, Sigma, Sapo, Rosa Negra, Cemitério, Detractor, e algumas bandas de Rio Grande, como a Puberdade, Neanderthal. Na sequência, pintou a Miss Troupe (banda pré-Doidivanas e bastante experimental).
Para encurtar esta opereta, no final dos 90 e início do novo milênio, depois de mais uma queda, o processo de criação musical na cidade foi retomado com maior vigor Talvez um pouco pelas facilidades tecnológicas. Novas referências artísticas. Neste cenário, criamos a Doidivanas (banda de rock bagual com a qual lancei quatro álbuns).
Mas aqui neste resumão, muita gente bacana e história curiosas ficaram de fora. Como não falar no dissonauro do rock, o guitarrista Sullivan Mello? E a black music pelotense? Os DJs? A guerreira DJ Helô? Bá, a lista vai longe! O projeto Música Ao Entardecer. Os diversos festivais da bandas no Theatro Avenida. O movimento Uns Rock. Os shows na praia do Laranjal. O grupo vocal Harmonia. O pessoal do heavy-metal e do hard-core. O satoléptico Vitor Ramil. Giba Giba, Mestre Batista, as escolas de samba, o Projeto Cabobu. E a música erudita? Os eruditos do Conservatório de Música? E os tauras do nativismo. O Círio, festival universitário nativista. E o pessoal do hip-hop? E a velha guarda? Solon Silva. Dona Amélia. Avendano. O bar Liberdade, pô!
E quem mais? Ih… Me esqueci! Viram só que eu estou dizendo? Há tantas lacunas. Em tempos de globalização, aldeia que não se valoriza, não existe. Gracias, McLuhan! Cante, conte e registre a sua aldeia e serás universal. Gracias, Tolstoi!
Parabéns, fui aluno da sala de estudos musicais Milton Nascimento em 1988,(Giovane batera e Beto do “bazar Edison” Percussão) e fiquei muito emocionado com que Li, e feliz em saber que existem pessoas que dão valor para esta época de ouro da musica do sul.
João Caldas
Floripa.
Olha só, o Rodrigo é uma figura.
Sou do tipo saudosista também, e procuro sempre valorizar a formação que cada ser humano recebe.
A leitura no remete ao universo maravilho, e as lembrança ..bem ..nem preciso comentar.
Realmente foi uma época maravilhosa, cheia de experiências e de uma juventude sadia, repleta de sonhos.
Claro que é pedir demais para o Rodrigo lembrar de tudo e de todos, mas fiquei muito feliz de ler o texto com a profundeza deste escritor.
Sou comtemporâneo de toda essa revolução musical dos anos 80 e 90, uma pena que foi pouco tempo, infelizmente crescemos e mudamos.
Talvez vc não lembre de um episódio em que eu, vc e o Luizinho ( guitarrista ) tocamos num final de noite na Pastelaria, nem lembro o que, nem como ( acho que foi muita cerveja ), mas foi hilário.
A troca de experiências que existiam nas bandas locais era muito gratificante, claro que existiam as rivalidades, mas acredito que o que prevalecia eram as amizades.
Sou do tempo que se emprestava instrumentos, pratos, pedestais, pedais de bumbo, pedais de efeito, ora, ninguém tinha dinheiro para comprar tudo, sem contar o fato que não existia a abertura do mercado para se comprar instrumentos musicais a preços acessíveis.
Isso era muito legal…essa troca….
Particularmente gostaria de agradecer aos meus amigos da banda caminho Oculto, o Jean ( Baterista ), Alexandre Viana ( Uruca – Guitarrista ), o Edson ( vocalista ), aos outros amigos que passaram pela banda de uma forma marcante como o nosso querido Fernando ( Bizo – Tecladista ), o Daniel Zanoteli ( sax ) e o nosso amigo Fenoley ( acho que é assim que se escreve) – ( guitarra ), pelos momentos importantes da minha juventude, e que construiram o homem que sou hoje.
Certa vez me questionei, o por que do nome Caminho Oculto, e definimos que seria uma estrada, que que deveríamos tomar um caminho, ao qual era oculto, por que oculto é o desconhecido.
Hoje olho e vejo quanto caminho escolhemos, diferente, bons, ruins, mas o caminho não é mais oculto.
Deixo o meu abraço ao querido Rodrigo por todas as lembranças em que me levou a viajar pelo universo de minha juventude.
Andre Max – Banda Caminho Oculto
Opa! Seja bem-vindo, André!
Quanto tempo!? Fico contente que tenhas curtido o texto. Tinha escrito para um blog há alguns anos. Por conta de uma comunidade que surgiu no Facebook – Rock Pelotense – dos anos 90 até hoje!!! – acabei resgatando o escrito do limbo.
Também curto pra caramba aquela época do final dos 80/início dos 90 (ah… os meus 15, 16 anos) e da camaradagem da bandas de Pelotas. Muito obrigado pelo teu comentário. Me fez relembrar de outras histórias. Esta da Pastelaria, por exemplo (inacreditavelmente, há 2 anos, o Serjola mora e trabalha em uma estofaria em um casarão ao lado do condomínio onde resido — “Coisas da vida”, como diria Vonnegut).
Como você disse, são muitos caminhos, alguns já revelados, outros, pela minha visão, ainda ocultos. Importante é a viagem. Baita abraço!
Obrigado, João Caldas. Seguimos a peleia pelo resgate desta trajetória. Agradecemos as palavras e a visita. Baitabraço, Rodrigo dMart.
Esqueceram do Cláudio Blackmetal, figura dos anos 80 e maior personalidade do rock-metal da história de Pelotas. Acho q quem escreveu o texto nao sabe do q fala…
Olá, caro Mauro. Este é o meu olhar, apenas um recorte, um panorama do que vivenciei na cidade, como músico, jornalista e articulador cultural. Uma experiência que quis compartilhei com o mundo. Você pode fazer o mesmo, como outros aqui e contribuir para enriquecer esta história, ao invés, de assumir uma postura negativa perante as coisas. Obrigado pela colaboração. Cordial abraço, dMart.
Meus Parabéns Rodrigo! As coisas são assim e Pelotas é um vulcão em permanente erupção, por tudo que falaste e pelo que não vivenciastes, legal da tua parte pedir pro pessoal a colaboração para continuar com os relatos.Um grande abraço!
Grandes lembranças Rodrigo, lembro quando operastes pra mim um gravador numa sala com eco para eu mandar uma composição para um festival, que por sinal foi a campeã…hehehe como se arte pudesse ser uma olimpíada. Certamente a música que produziamos na época se fosse pós-internet a história seria outra.
Segue aqui uma recordação do início dos anos 90 http://www.youtube.com/watch?v=EvuMUjsV2Dk
Muchas gracias, caríssimo Pedro Di Ázz! Seguimos a peleia. Lembro das tuas levadas fantásticas na viola. Taca ficha sempre. Baitabraço, Rodrigo dMart.
Ri muito quando li “a ultra criativa TheMentz”… clone dos funk-rock da época e extremamente pobre melodica e harmonicamente falando, eles nao eram criativos. ERAM FILHOS DA CLASSE MEDIA-ALTA PELOTENSE, COM DINHEIRO PRA INSTRUMENTOS E ESPAÇO PRA ENSAIAR. Criativos , pra citar alguem que tu citou, seriam os caras da Sapo. Rodrigo este teu artigo nao serviu pra falar dos musicos de Pelotas. Serviu pra tu puxares os sacos de teus velhos amigos…
Oi, Rogério. Curtia a banda Sapo também. Este é um rascunho do meu olhar sobre as coisas que lembro da época. Discordo do teu ponto de vista de separar a arte em classes sociais. Sempre transitei entre vários grupos e artistas, indiferente se eram ricos ou pobres. Obrigado por lembrar da banda Sapo. Baitabraço!
Eu sempre achei que a Sapo teria carreira internacional! Dudu, Guilherme e os baixistas de diversas fases (Fernando, Daniel, Exorcista…) foram os caras que mais levavam a diante a música pelotense!
caro Rogério: meus pais ralaram muito para me dar o único e mais valioso bem que me deixaram como herança: o estudo. ainda assim, trabalhei no comércio pra comprar minha primeira guitarra (pau-e-corda), uma tonante. Portanto, não fale do que não sabe, e não venha jugar o que fazíamos, pois de certo modo, nos divertíamos fazendo o que gostávamos, e por tabela divertíamos outras pessoas. não é esse uma das premissas do R’n’R?
Buenas, Alexandre Maciel! Obrigado pela tua participação. Legal saber mais sobre a banda Sapo. Inclusive, agora, em 2021, o Guilherme Tavares, trouxe um enorme enriquecimento a este artigo. Baitabraço, dMart.
Após o limbo entre os comentários postados aqui, no Imagina Conteúdo, resolvi também deixar meu comentário. Muito obrigado a todos que fizeram parte do cenário do rock Pelotense (amigos, “rivais”, conhecidos, etc). Penso que este artigo não serviu para puxar o saco de amigos, falar mal de músicos, mas sim descrever a situação da época. É difícil lembrar de todos, mas o artigo está aqui para que possam se manisfestar, com RESPEITO. Até porque hoje para a nossa idade e maturidade, não fica bem mais este tipo de atitude (e ficar remoendo cicatrizes, rusgas, etc). E digo que o nome Caminho Oculto também tem significado espírita, André (li isto muitos anos depois, depois do término da banda), sendo um capítulo (ou livro). Mas acredito que não era esta intenção do nome, já que eram outros tempos, outras ideologias, crenças… Me dá saudade da época em que éramos menos individualistas, marcávamos shows e não jogávamos na cara do companheiro por ele não agendar também, não existia baterista contratado, músico contratado, não existia a palavra “gig”, bem como couvert artístico (nem se falava) e release se fazia apenas para registro, não como exigência… Em fim, nossas relações eram mais humanas e as bandas eram uma família. Valeu, Rodrigo, pelo artigo!!! Abraço!!!!
Bacana, Alexandre! Obrigado pelo comentário. Baitabraço, dMart.
Caro Alexandre, relendo este teu comentário agora, em 2021, fiquei mais contente em reencontrar pessoas como você. Tenho certeza que o Caminho Oculto é um dos mais sinceros do universo. Baitabraço, dMart.
Merece! faz tempo que não te vejo pela cidade. Em Porto? Abraço!
Parabéns pelo artigo, sobretudo pela iniciativa de registrar a memória dessa época (pré popularização da tecnologia) em que eram tão raras as fotos, filmagens e publicações. Conheci bem a cena dos anos 90. É realmente muito difícil não deixar ninguém de fora; obviamente, ninguém viveu a cena 100%. Quanto à memória em si, todos sabem que a maior parte do pessoal que trilho essa nublada Satolep dos 90 tem hoje “o hd fragmentado”, por assim dizer.
Outra coisa que é importante mencionar é que nessa época, até pelas dificuldades, era muito comum as bandas existirem em torno de “hubs”, onde o elemento agregador podia ser aparelhagem compartilhada, local de ensaio, um ou dois músicos comuns, às vezes uma afinidade sonora. Dificilmente uma banda faria uma apresentação sozinha, por exemplo. Vi muitos ensaios coletivos que reuniam bandas completamente diferentes; não havia separação/ódio entre galera punk, metal, prog.
Vou citar dois desses elementos “hub” da cena rock dos anos 90. Um é o Rubira Gordão que, além de participar de várias bandas, também organizava eventos trazendo bandas de outras cidades. Embora o Rubira sempre tenha sido ligado ao punk e metal ele era tinha contato e mobilizava bandas rock e até prog. Outro que fazia algo assim era o Saninho Billy, que também tocava em várias bandas e organizava eventos como o lendário Woodscata.
Hoje tem gente já escrevendo trabalho acadêmico de doutoramento sobre a cena rock do Satolep 90!
Obrigado pela iniciativa. O teu texto é muito bem escrito e o teu depoimento valioso.
Valeu, Gryphon!
Obrigado por colaborar. Os comentários são muito importantes para enriquecer o texto. Legal lembrar do Rubira e do Saninho, que conheci por conta da época que toquei na Rockanalha.
E a cena musical de Pelotas é assim mesmo. Misturada. Pencas de gente criando o tempo todo. Irredutíveis gauleses que precisam colaborar pra mostrar seu som.
Sempre achei que falta um livro bacana, com uma pesquisa de peso, para falar sobre o rock de Pelotas.
Sim! Muito legal este lance do trabalho de doutorado. O rapaz entrou em contato comigo para fazer um entrevista. Quem sabe não é pela academia que vamos registrar esta história?
Baitabraço, dMart.
Relendo os comentários, penso que seria legal Rodrigo escrever um livro sobre a música Pelotense, inclusive com entrevistas de várias pessoas da época, citações, fotos, etc. E também fotos, registros dos locais de shows, tais como o Teatro Avenida, ruína que deixa saudades. Sei que uma pesquisa ampla e que muitos registros podem ter sido perdidos, mas é uma forma de resgate da memória da música pelotense. Fica minha ideia. Abraço!
Oi, Alexandre. Valeu.
Essa ideia do livro sobre o rock de Pelotas já é antiga. Mas a questão é tempo e recursos para isto. Penso que o projeto deveria incluir fotos e vídeos. Um lance multimídia com participação coletiva… Para isso, teria de dedicar um bom período para pesquisa, entrevistas, investigação em arquivos, acervos pessoais etc. Seria necessário montar uma pequena equipe. Mas vamos ver o que horizonte nos reserva. Baitabraço!
Sou de São Lourenço do Sul e primo-irmão do citado Silvio Castro, mas vivi muito a cena musical pelotense. MUITO BOM o teu texto e de bate pronto lembrei das não citadas, Mestre Jonas (do guitarrista “Paulinho da Attro”) e do Chico Padilha, que se não me engano, iniciou carreira tocando na Caso Contrário. Abração e PARABÉNS pelo texto!
Muito obrigado a todos que lembraram da banda SAPO! De fato, a criatividade era uma meta forte pra gente; sempre queríamos “inventar alguma coisa completamente diferente”, explorando fontes como Eletrônica Digital, Direito, Geometria, etc. Cheguei aqui nesse texto por conta de estar tentando encontrar a data do LP da banda Santos, em função de um podcast que tenho ajudado a articular, chamado Histórias do Rock – o qual, em algum momento, deveremos tratar do Rock no Brasil, dedicando possivelmente algum episódio futuro ao Rock gaúcho e pelotense. Cheguei nisso porque atualmente sou professor da UFPEL e ministro a disciplina de História do Rock Rodrigo: muito legal a iniciativa de registrar essas memórias, ainda que curtas e de improviso, nesse texto aqui. Pensando nos anos 60 (que não vivi), deixo aqui o nome The Beatniks; pensando nos 90 e 2000 (que vivi), deixo registrado aqui os punks da banda C.U.S. (Contra U Sistema), os alternativos da Red Mosquito e Karma, o Funk Metal da Freak Brotherz, o rock clássico da SIlverbirds (Power Trio com Saninho no baixo e Alexandre “Conde” batera – esqueci o nome do guitarrista, mil desculpas!!)… É muita gente e a memória falha, mas procurando aqui nos alfarrábios vou lembrar. Tinha uma turma grande do Hardcore e Punk nos anos 90 cuja cena underground (que redundância) era muito estimulada e promovida por figuras como o Rubira, que há anos tem um estúdio e segue na ativa com a banda Tronco (Stoner Rock). Também mais recentemente o Vân Züllatt (Rock Progressivo), o Mato Cerrado, mandando um Rock pesado com aquela raiz forte no Blues, etc. Me disponho a colaborar com o que puder com esse projeto de resgatar a memória do Rock Pelotense, Rodrigo, se um dia vier mesmo a acontecer. Abraços a todos!!
Salve, caríssimo Guilherme Tavares! Tudo bacana?
Quem escreve aqui é Rodrigo dMart. Antes de mais nada, muito agradecido por esta tua fantástica colaboração (e fico louco de faceiro a cada comentário que é feito aqui, pois amplia a narrativa, os olhares e as conexões possíveis sobre esta história).
Muito legal que você entendeu que este post – como diz o nome – trata-se somente de “notas”: um relato incompleto, caótico, impreciso e pessoal sobre algumas de minhas vivências musicais (como aquelas coisas que se põem no papel para que não caiam no esquecimento).
Espécie de rascunho de memórias imprecisas e particulares. Minha história e trajetória artísticas são, intimamente, ligados ao rock e à cultura da querida – e ainda não valorizada e reconhecida – terra de João Simões Lopes Neto.
Certamente, este post é uma singela e parca narrativa que carece de muita pesquisa, colaboração, trabalho e investigação; para que – quiçá – se amplie e incorpore inúmeras visões, histórias e experiências da rica e prolífica cena musical pelotense (ao longo de várias décadas). E não falo só do gênero do rock, mas das inúmeras linguagens e vertentes artísticas que se experimentaram e se experimentam na cidade.
Como digo no início do relato, este foi um texto que escrevi, despretensiosamente, em 2005, para uma coluna que tinha em um portal regional (que não existe mais); e que, depois, decidi republicar aqui no site da Imagina Conteúdo Criativo (empresa de projetos culturais e ateliê de criação no qual atuo, desde 2008, ao lado da jornalista e produtora cultural Yara Baungarten).
Vale salientar que este post – mesmo na sua incompletude – tem uma visitação contínua (e consistente) de um público interessado em conhecer, compartilhar e revisitar as histórias e as existências na/da música de Pelotas (mais de 3 mil visitações — que é pouco pra uns e maravilhoso pra mim).
Chama atenção sempre. Então, há uma audiência ávida e cativa para este tema (mesmo que seja nicho ou interesse regional que, por consequência, também é universal, como escrevi ao citar Tostoi).
Por curiosidade e pela satisfação de partilhar memórias… Tive o privilégio de assistir (junto com integrantes da banda Doidivanas) a um show da banda Sapo, que rolou no pátio do ICH (Instituto de Ciências Humanas), ali no centro. Não sei há quanto tempo (final dos anos 1990???). Mas me lembro que me chamou atenção ao rock progressivo, visceral e conceitual da banda, com referências aos sons lisérgicos dos anos 60 e 70. Depois, infelizmente, não sei por conta d’águas, não tive mais contato com o trabalho de vocês.
Especificamente sobre a banda Freak Brotherz, além de amigos de longa data e tremendo artistas, o grupo também é nosso cliente aqui na Imagina. Há várias publicações aqui no site sobre os projetos deles no qual colaboramos. Fique à vontade para conhecer.
Bueno, caro Guilherme, pra não me alongar demais, fiquei contente e – positivamente – surpreso com a sincronicidade deste teu comentário… Incrível!
É justamente em um momento no qual estamos alinhavando – na Imagina – alguns projetos para os próximos anos que vão abordar a música pelotense; dentre estes, um – que acalento há longa data,- sobre a História do Rock de Pelotas. Nada é por acaso, chiru Tavares!
Mais uma vez, muchas gracias pelas tuas palavras. Se houver interesse em continuar esta prosa, favor, entre em contato comigo.
Baitabraço, Rodrigo dMart.