Nik em Munique, um ilustrador desgarrado na Alemanha

Desgarrar vem do linguajar regional do sul do Brasil. É quando algo ou alguém se afasta de seu grupo. O termo não se aplica exatamente ao caso do ilustrador gaúcho Nicolau “Nik Neves” da Silva. Utilizei o termo para ter um gancho no título e pela questão do afastamento geográfico. Explico. Atualmente, Nik reside em Munique, na Alemanha, batalhando a vida ao lado da companheira, a artista plástica Marina Camargo. De lá, ele segue produzindo ilustrações para revistas no Brasil e Espanha, além de criar trabalhos autorais como o Projeto: Inútil e a revista/fanzine/coletivo Picabu.

Quadros de Nik Neves na exposição "Entre o Traço e o Espaço", na ESPM, em 2009, em Porto Alegre

Conheci Nik pessoalmente na exposição “Entre o Traço e o Espaço” – realizada na ESPM, em 2009, ao lado de Diego Medina, Fábio Zimbres e Indio San (de “Um Outro Pastoreio”) – no qual os ilustradores apresentaram um pouco de seus processos criativos.

“Feijão”, Nik Neves (centro) e Rodrigo dMart, na exposição “Entre o Traço e o Espaço”, em 2009

Com curadoria do artista visual Guilherme Dable, a coletiva recebeu o prêmio Açorianos de Artes Plásticas de melhor exposição coletiva. Na oportunidade, Nik mostrou alguns de seus belíssimos sketchbooks de viagens.

Nik Neves em "Entre o Traço e o Espaço", na ESPM, em 2009, em Porto Alegre

Desde a adolescência, no início dos anos 90, Nik Neves atua como ilustrador e quadrinista. É dono de um traço limpo e clássico que, na minha visão, remete a uma estética retrô, ao estilo dos anúncios publicitários dos anos 40 ou 50.

Página da HQ "Fulano, Beltrano e Cicrano", de Nik Neves

Na semana passada, o “desgarrado” ilustrador participou da primeira edição do festival Alt Com, realizado na cidade de Malmö, na Suécia. É um evento voltado para os fãs e criadores de histórias em quadrinhos adultos. E, desde Munique, Nik concedeu a Imagina Conteúdo Criativo uma entrevista sobre o mercado de ilustração, a adaptação da vida ao cotidiano na Alemanha e os novos projetos.

Como foi a participação no festival de quadrinhos em Malmö?

Era um festival pequeno, em uma cidade não muito grande também, que fica a 30 km de Copenhague, ligado por uma ponte gigante que une Dinamarca e Suécia. Foi também uma introdução ao mundo escandinavo, terra daquela gente loura, alta e simpática, mas que já foi um dia viking, cruzando oceanos com chifres na cabeça.

Malmö, Suécia - Por Nik Neves

A organização foi bem competente e conseguiu fazer essa primeira edição funcionar. Malmö, pelo que soube, tem uma escola de quadrinhos e, ao todo, a Suécia tem três escolas. A produção, no geral, tudo é muito bem impresso e divulgado, especialmente, dentro do país e nos vizinhos (Dinamarca, Finlândia e, às vezes, Noruega). Dos escandinavos, os finlandeses são os mais organizados e com melhores autores, revistas e com uma associação que funciona ativamente desde 1971. Mas os suecos tem também algo do gênero. Os dinamarqueses estão engatinhando nesse assunto, mas tem mercado e editoras.

Festival de quadrinhos Alt Com, na Suécia - Foto por Nik Neves

No festival, fiz uma breve palestra sobre o quadrinho independente no Brasil, a partir dos anos 80, junto com o Marcos Farrajota, da Gibiteca de Lisboa (que também faz parte da Chili com Carne, associação de jovens artistas portugueses).

Nik Neves (centro) no Festival Alt Com, em Malmö, na Suécia

Como você está percebendo a cena da ilustração e dos quadrinhos na Alemanha?

A Alemanha não é um país com muita tradição em quadrinhos. Não chega perto dos vizinhos – França, Bélgica, Itália – mas tem boas editoras. Afinal, é o maior mercado editorial da Europa. Tem bons autores, como o Schultheiss, que fez uma adaptação do Bukowski que saiu no Brasil editado pela L&PM (“Delírios Cotidianos”, de Matheus Schultheiss, sobre a obra de Charles Bukowski).

Não tenho ideia de como é o mercado já que não conheço nenhum quadrinista pessoalmente. Mas entrando em contato com a revista Strapazin, produzida entre Munique e Zurique, deu pra ver que tem alternativas muito boas, e na maioria das vezes, independentes.  

E como está a vida aí na Alemanha? Quais são os novos trabalhos?

O difícil de um gaúcho se adaptar na Alemanha é o frio e a língua. Como não nasci na colônia alemã não sei alemão de casa e depois de adulto é uma língua danada de aprender. Mas eu acho que temos muito da cultura alemã (no Rio Grande do Sul) e nem nos damos conta. 

Nesse ano que fico aqui na Alemanha, tenho projetos como livros infantis, a revista Picabu 5, que está já sendo produzida, e também trabalhos meus que pretendo em breve publicar. 

"Poder" - Nik Neves

Conheça mais as obras e o portfolio de Nik Neves em www.nikneves.com

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