Nem tudo na vida é site specific, aquelas exposições de trabalhos que são pensados especialmente para um espaço. Você cria muitas vezes pelo simples ato criativo. E depois? A parede não pode ser furada, plotada ou o chão não pode receber instalações. E se o teto não suportar o peso da obra? Num mundo tecnológico, onde esconder/mostrar os fios que conectam som e imagens?
As Imagens Marionetáveis, projeto que foi acolhido pelo Espaço Cultural da ESPM em Porto Alegre, foram criadas em 2008, durante uma especialização em Poéticas Visuais pela Feevale, com orientação de Elaine Tedesco.

Uma parte do projetos são dois storyboards fotográficos, chamados Andando e Bailando, cada um com nove metros de comprimento. A Pinacoteca da Feevale oferece duas paredes que são suficientes para este formato. Mas, e depois, onde arrumar tal extensão em Porto Alegre?
Para apresentar a proposta inteira – como foi pensada originalmente: fotografias e vídeo -, adaptando para o segundo andar da galeria da ESPM entrou em pauta um conceito que eu e dMart sempre buscamos: ABRAÇAR A GALERIA.
O primeiro passo que realizamos é visitar o espaço. Fotografar e fazer vídeos do lugar. Medir e fazer plantas. A partir daí, surgem várias ideias. Fazemos muitos rascunhos imaginando as obras no espaço.
No caso de “Imagens Marionetáveis”, pensamos em diversas alternativas. Plotar uma imagem no teto na galeria. Colocar backlights no chão com timer. Dependurar o projetor de vídeo no teto para facilitar a circulação do público. Ideias que foram descartadas em prol da simplicidade. E também, confesso, baratear o custo da montagem.

A ideia de “abraçar a galeria” já foi posta em prática na minha primeira exposição individual, que ocupou o T Cultural Tereza Franco da Câmara Municipal de Vereadores. Este é um espaço que não está na rota de muitos grandes teóricos da Capital, mas era para lá que eu tinha sido selecionada, com as monotipias do “Quadrado do Espírito“, escolhidas pelo grande Antônio Augusto Bueno.

O lugar não recebe pintura muito frequente, o piso é um linóleo vermelho, oferece molduras que os artistas aceitam e fica por isso mesmo. Depois de 12 horas de faxina, cálculos e quadrados montados com fio de nylon (as paredes não podem ser furadas) ficou assim, com iluminação de Julian Bortoluzzi.
E o abraço máximo que demos até agora foi na Jabutipê, com a mostra “Duplas Pontas/Pontas Duplas“, que teve fotografia, vídeo, performance, música e corte de cabelo.
Mas voltando a ESPM. A coordenação do local, Claudia Barbisan e colaboradores, trata bem o artista. Um montador competente, o Nelson Rosa “Feijão“, escuta e executa os pedidos. A parede, o teto e o chão podem ser usados e o cilindro foi pintado na cor que solicitei, que combinava mais com o meu trabalho, com projetor a postos para os vídeos (mas o aparelho de DVD é meu).
E fui divulgada em legítimas letras garrafais.

Tudo certo, coquetel rolando e exposição na imprensa. Aí entra a contrapartida do artista: abraçar o espaço é VALORIZAR este espaço. Deixá-lo tão legal que os outros vão querer expor lá, que o público vai querer voltar e quem organiza vai te chamar de novo. Quem faz a galeria é o artista.
Mas isso já é papo para outra vez. Saiba mais nos nossos cursos e palestras. Em breve.
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