Um dia de ação da Defesa Civil: sobrevoando do Canal São Gonçalo até São José do Norte

O que é a Defesa Civil? Como se originou? Quando é acionada? Quem faz parte? E como atua? Para conhecer um pouco disso, a comunicação pública foi convidada a viver um dia de trabalho da Defesa Civil da Região Sul e Costa Doce do RS.

Reportagem (texto e imagens): Rodrigo ‘dMart’ Martins (Ascom-Seapi/Secom)*

Equipe do Batalhão de Aviação da Brigada Militar.

Defesa Civil. Sobre o que é, o próprio nome já dá uma pista. É a junção de “defesa” e “civil”. É a união de esforços entre organizações governamentais e não-governamentais, militares e civis, instituições de pesquisa e entidades educacionais, entes públicos e privados, para a prevenção e o enfrentamento de momentos de crise. Por exemplo, atuam lado a lado, funcionários de prefeituras, bombeiros, soldado do exército, professores universitários, policiais civis e brigadianos, empresários e voluntários.

Doações em centro de distribuição, em Rio Grande (RS).

Quinta-feira (16/05) – 11h15
9º Batalhão de Infantaria Motorizada (9°BIMtz) – Bairro Fragata – Pelotas (RS)

Designado para acompanhar pauta de reportagem sobre de estoque de doações e fluxo de trabalho da Defesa Civil, dentro do Batalhão, jornalista da Comunicação do Estado é surpreendido pelo convite do Coronel Márcio André Facin, coordenador da Defesa Civil da Região Sul e Costa Doce.

– Vamos indo? – disse o Coronel.

– Aonde? – indagou o jornalista.

– O helicóptero está nos esperando no campo ao lado. Vamos ir até Rio Grande e São José do Norte, conversar com os prefeitos, ver como estão as cidades, ver o que eles estão precisando, tanto com mantimentos, viaturas, embarcações. Pessoalmente, a gente vai lá conversar e melhorar o atendimento – explicou Facin.

Após as informações básicas de procedimentos para embarque e desembarque, ministradas pelo soldado Sangaletti, às 11h30, entramos a bordo do helicóptero AgustaWestland AW119kx Koala, de fabricação italiana.

Helicóptero do Batalhão de Aviação da Brigada Militar.

Além do operador aerotático, soldado Sangaletti, a tripulação é formada pelos pilotos Tenente Coronel Teixeira e o Capitão Olegário, integrantes do Batalhão de Aviação da Brigada Militar.

“O helicóptero é usado para policiamento ostensivo em busca e salvamento como apoio aos trabalhos da Defesa Civil”, se orgulha Sangaletti.

Operador aerotático, soldado Sangaletti, faz últimas checagens antes do voo.

Durante o voo, entre Pelotas e Rio Grande, é possível observar o impacto das águas na paisagem brutalmente transformada: Canal São Gonçalo transbordado, propriedades rurais submersas, ladeando o elevado da rodovia BR-392, pequenos charcos que viraram lagos, o alagamento severo na Ilha dos Marinheiros, próxima da cidade rio-grandina.

O Coronel Facin explica que a Defesa Civil da Região Sul e Costa Doce é responsável pela interlocução entre 27 municípios (e destes, cinco estavam em estado de calamidade pública: Arambaré, São Lourenço do Sul, Pelotas, Rio Grande e São José do Norte.

Quinta-feira (16/05) – 11h44
Aeroporto Regional de Rio Grande – Comandante Gustavo Cramer (RIG)
Vila Maria José – Rio Grande (RS)

No aeroporto, Coronel Facin é recebido por integrantes da Brigada Militar que transportam a equipe até o QG improvisado (Centro Integrado de Ações) no prédio do Procon, na área central de Rio Grande, onde atuam em conjunto Polícia Civil, Prefeitura, Bombeiros, Defesa Civil e Brigada Militar, além do Procon e da Guarda Municipal.

Já na chegada, a Defesa Civil recebe um pedido de Evandro Silveira, atual gestor da Secretaria de Município da Cidadania e Assistência Social (SMCAS), de Rio Grande: “Para nos auxiliar no diálogo com o Exército quanto ao fornecimento de uma barraca para ampliação das vagas para centro de acolhimento da população em situação de rua”, solicita o secretário.

Na sequência, a Defesa Civil Estadual participa de uma reunião ampliada com prefeito Fábio Branco (MDB), em conjunto com integrantes das Secretarias de Segurança e de Assistência Social, da Polícia Civil, do 6° Batalhão de Polícia Militar (Brigada Militar) e das coordenadorias locais da Defesa Civil. A principal demanda são cestas básicas para o município.

“Eu não tenho dúvida. Esta situação é a pior da história do Rio Grande do Sul e da cidade de Rio Grande, com muitos desafios pela frente ainda. Nós estamos reforçando a estrutura de atendimento, para pedidos de socorro e, de fato, o que mais as pessoas estão precisando é de alimentos, neste momento”, relata o prefeito.

“Uma reunião importante pra gente alinhar ainda mais as estratégias, tanto na segurança pública quanto na ação de cidadania social, verificando as áreas de maior necessidade de policiamento e de atendimento às necessidades humanas das pessoas que estão ali em risco”, comenta a delegada Lígia Furlanetto, da Delegacia Regional de Polícia Civil.

Área central de Rio Grande (RS).

Quinta-feira (16/05) – 14h00
Aeroporto Regional de Rio Grande – Comandante Gustavo Cramer (RIG)
Vila Maria José – Rio Grande (RS)

Enquanto retornávamos ao Aeroporto Regional de Rio Grande, Coronel Facin comentou sobre o início dos trabalhos na Região Sul, a partir do dia 04 de maio, quando a Lagoa dos Patos começou a elevação das águas.

“Naquele momento, era necessário que nos reuníssemos com todas as pessoas que envolvem a ciência da meteorologia, da hidrologia, unificando com dados oficiais da Sala de Situação do Governo do Estado para que trocássemos informações com as universidades e soubéssemos o que iria acontecer”, explicou Facin.

Com isso, os municípios se prepararam e foram entregues centenas de colchões, necessários para a montagem dos abrigos públicos. “E ao ocorrer, de fato, o evento da elevação das águas, com a saída das pessoas para abrigos e residência de pessoas amigas, nós passamos para um segundo momento no qual nós temos que abastecer as pessoas com aquilo que é necessário, agora, preocupados com alimentação e hidratação, encaminhando água e cestas básicas”, contou Facin.

A Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul foi criada, em julho de 1970, como Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa, e sua estrutura foi definida no ano de 2003, pelo Decreto Estadual nº 42.355, ligada diretamente a Casa Militar do Gabinete do Governador e tem sua sede em Porto Alegre.

O atual modelo integra o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), conforme o Decreto nº 7.257, de agosto de 2010, com atuação “nas fases de prevenção, mitigação, preparação, resposta e reconstrução de cenários, nos desastres naturais ou tecnológicos”.

Helicóptero chegando em São José do Norte (RS).

Quinta-feira (16/05) – 14h13
Campo de futebol – Liberal Futebol Clube
Centro – São José do Norte (RS)

Ao pousar no Campo do Liberal, a equipe da Defesa Civil e os tripulantes do helicóptero descobrem que estão trancados dentro da grade do campo, com os portões de ferro cadeados. Mas não é necessário usar força bruta para abrir caminho, pois o auxílio vem rapidamente dos habitantes locais, vizinhos ao estádio, que, curiosos, foram observar a descida do helicóptero.

– Meu marido tem a chave do cadeado. Já está indo aí! – grita a senhora, acenando do telhado de sua casa para a equipe presa no campo.

Moradores locais saúdam e ajudam os profissionais da Defesa Civil.

Logo em seguida, chega a ajuda (“para salvar quem está ajudando a salvar”) e a comitiva local, com o vice-prefeito, Neromar Guimarães, e Jonas, da Defesa Civil municipal, que transportam o Coronel e o jornalista até a prefeitura municipal. A sede do clube de futebol serve como local para busca de auxílio e distribuição de doações para os desabrigados.

Sede do Liberal Futebol Clube serve como espaço de distribuição de doações.

No caminho, a equipe observa algumas ruas com lâminas de água invadindo ruas laterais, enquanto um grupo de jovens joga pelada em uma quadra de esporte público, como se fosse um cotidiano de dias normais.

Chegando na prefeitura, a Defesa Civil é recebida pela prefeita Fabiany Zogbi Roig, em conjunto com Neromar, Tobias e uma jovem funcionária.

A reunião foi pautada pelas demandas de auxílio com logística junto ao corpo de bombeiros e à Marinha do Brasil (transporte de funcionário vitais – de saúde e assistência social – para o município entre Rio Grande e São José do Norte), busca de recursos econômicos para a cidade, além da análise de uma simulação de um mapa de inundação, gerado por professores da Universidade Federal de Rio Grande (FURG).

“Apesar da situação atípica que vivenciamos, a situação parecia controlada e um efetivo (do corpo de bombeiros) foi retirado. E nós pedimos a intervenção da Defesa Civil, pois os gráficos apontam uma elevação maior (das águas), para que esse efetivo, com os equipamentos retornem a São José no Norte”, pediu a prefeita.

Durante a própria reunião, o Coronel Facin fez contato com colega da Defesa Civil que justificou a necessidade de deslocamento para ajuda mais emergencial dos bombeiros no Vale do Taquari e cercanias, mas que a equipe voltaria ainda no final de semana para São José do Norte.

Eram 15h15, quando a equipe da prefeitura, gentilmente, forneceu duas “quentinhas” para o almoço do Coronel e do jornalista que, prontamente, agradeceram e se alimentaram para seguir viagem de trabalho. Em São José do Norte, os funcionários públicos assumem dupla função quando também fazem parte da Defesa Civil Municipal.

Recarregando energia: equipe da Defesa Civil é agraciada com “quentinhas” da prefeitura de São José do Norte para prosseguir com a viagem de trabalho.

Antes de retornar para o campo do Liberal, a equipe faz uma passagem para averiguar alagamentos na Rua Marechal Floriano, uma das principais vias da área central da cidade, que desemboca na Hidroviária e próximo da Balsa para Rio Grande. As partes mais baixas da rua estão embaixo d’água.

Quinta-feira (16/05) – 16h08
Campo de Futebol – Liberal Futebol Clube
Centro – São José do Norte (RS)

Enquanto helicóptero parte rumo à Rio Grande, Coronel Facin articula uma agenda rápida com a Marinha do Brasil, pois a nave deve retornar à Pelotas antes do cair do sol, por questões de segurança.

“17h40 é o nosso teto máximo para retorno”, avisam os pilotos da nave.

Correndo contra o tempo: para realizar mais uma reunião na Marinha do Brasil, antes de retornar para Pelotas.

Para agilizar o encontro, a aeronave solicita pouso no campo que fica atrás do 6º Batalhão da Polícia Militar, distante uns 500 metros da Estação Naval de Rio Grande (ENRG).

Durante o trecho de voo, o jornalista pesquisa informações sobre a história da Defesa Civil no Brasil. A criação remonta aos tempos da Segunda Guerra Mundial. Aos moldes da Inglaterra, o governo federal cria, em 1942, o Serviço de Defesa Passiva Antiaérea e “a obrigatoriedade do ensino da defesa passiva em todos estabelecimentos de ensino, oficiais ou particulares, existentes no país”.

E após o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, surge o Serviço de Defesa Passiva Anti-Aérea, sob a supervisão do Ministério da Aeronáutica, que, por fim, se torna Serviço de Defesa Civil.

A primeira Defesa Civil Estadual brasileira foi organizada, em 1966, no Rio de Janeiro, para combater a uma grande enchente no Sudeste, no então chamado Estado da Guanabara.

Helicóptero retornando à Rio Grande (RS).

Quinta-feira (16/05) – 16h14
Campo de pouso – 6º Batalhão da Polícia Militar
Bairro Getúlio Vargas – Rio Grande (RS)

Pouso feito. Coronel e jornalista partem caminhando rapidamente rumo à Estação Naval de Rio Grande, mas, antes mesmo de chegar na base, ainda na calçada, os dois são recebidos pela Comandante Campos e pela Capitão de Corveta Madriara Nascimento.

Recepção ao representante da Defesa Civil ocorre antes mesmo de chegar à base naval.

Já dentro do perímetro da Marinha, a equipe faz o cumprimento – de praxe – para o Imediato Bruno Cesar Dalapé de Souza. Na sequência, a reunião ocorre no restaurante dos oficiais.

Breve saudação ao Imediato Bruno Cesar Dalapé de Souza, da Marinha do Brasil.

Na pauta, a troca de informações sobre doações de cestas básicas e a organização de fluxo deste trabalho através de um banco de dados em comum. Por parte da Marinha, há a solicitação de cursos e treinamentos para atuação em situações extremas.

Reunião de alinhamento: Coronel Facin, da Defesa Civil, com oficiais da Marinha do Brasil.

“Conseguimos alinhar as entregas de donativos, de gêneros alimentícios e de água através uma planilha integrada, atendendo com maior qualidade a todas as comunidades aqui da Região Sul”, comemorou Coronel Facin, enquanto retornava, com pressa, ao campo de pouso.

Marinheiros trabalhando na operação das doações para as enchentes.

Quinta-feira (16/05) – 17h14
Campo de pouso – 6º Batalhão da Polícia Militar
Bairro Getúlio Vargas – Rio Grande (RS)

Visão aérea durante o retorno para Pelotas.

Durante o retorno, a equipe silenciosa e tensa é brindada com um pôr-do-sol dourado. Espetáculo visual que gera um alento em meio ao caos do desastre climático. Um deslumbre que cria um sentimento agridoce.

Antes do pouso, helicóptero faz um sobrevoo de reconhecimento pelas zonas de risco e pelas áreas centrais da cidade de Pelotas. Às 17h40 em ponto, a equipe está com os pés no chão de volta ao Nono Batalhão de Infantaria Motorizada (9°BIMtz).

Quinta-feira (16/05) – 17h40
9º Batalhão de Infantaria Motorizada (9°BIMtz) – Bairro Fragata – Pelotas (RS)

Hora do retrato: Coronel Facin, os pilotos Tenente Coronel Teixeira e Capitão Olegário, o soldado Sangaletti e demais integrantes do Batalhão de Aviação da Brigada Militar: soldados Cleber e Farias (aerotáticos) e Givago (mecânico).

Após uma brevíssima pausa para um retrato com os tripulantes e os auxiliares da aeronave, o Coronel parte para o QG do um Gabinete de Gestão Integrado Regional, que a Defesa Civil instalou no batalhão, no bairro Fragata, em um espaço que divide com meteorologistas e professores da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

QG do Gabinete de Gestão Integrado Regional da Defesa Civil, no 9º Batalhão de Infantaria Motorizada.

Desde aí, a Defesa Civil monitora a situação das águas, faz distribuição de doações, recursos e equipamentos, além de articular contatos com prefeituras e instituições da região.

Às 18h, a Defesa Civil começa uma videoconferência, realizada diariamente, reunindo universidades, militares, profissionais e outras instituições para debater os rumos das ações de enfrentamento ao desastre climático.  

QG do Gabinete de Gestão Integrado Regional da Defesa Civil, no 9º Batalhão de Infantaria Motorizada.

E foi neste ponto que o jornalista se despediu. E o trabalho da Defesa Civil ali prosseguiu; já começara antes do relato e se desdobrou nos dias posteriores.

Rua Marechal Floriano, em São José do Norte (RS).

Perguntado pela reportagem sobre as demandas solicitadas durante este dia, o Coronel Facin, gentilmente, prestou contas na segunda-feira (20/05):

“Os bombeiros foram para São José do Norte no mesmo dia (quinta-feira, dia 16). As cestas básicas foram pra Rio Grande. Das 1000 solicitadas, a gente encaminhou 850. Falta pouco que será complementado entre hoje e amanhã. E os dados com a Marinha do Brasil foram amplamente alinhados estamos muito mais ajustados, depois daquela reunião”, declarou o Coronel.

Canal São Gonçalo, em Pelotas (RS),
com ponte para Rio Grande, ao fundo.

Embora ainda haja um turbilhão de dúvidas e variáveis neste enfrentamento deste desastre climático, é preciso reconhecer a importância de cada pequena ação ou gesto neste cenário de guerra. E cada homem ou mulher que trabalha na ou junto à Defesa Civil desempenha um papel significativo nesta batalha pela reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul (que será algo completamente diferente do que era); onde não existem heróis, mas somente cidadãos preocupados em realizar seu trabalho.

* Rodrigo ‘dMart’ Martins é jornalista, escritor, músico, artista visual e produtor cultural (Imagina Conteúdo Criativo). Na comunicação pública, atualmente, trabalha na Assessoria de Comunicação da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do RS. Para esta reportagem, ele atuou em conjunto com Secretaria de Comunicação (Secom) e Defesa Civil do Estado do RS.




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