
Tendo a prática do teatro de bonecos se espalhado mundialmente, a expansão das formas de contar histórias acontece, em direções diversas, nas sociedades modernas, acompanhada de um “inexorável desenvolvimento ocidental em industrialização e urbanização baseadas no realismo, no racionalismo e no capitalismo” (BELL, 2005, p. 53). Em termos de representação sócio-política, os bonecos performam como entretenimento popular, como arte teatral, como ferramenta educacional e como um meio de persuasão.
Da combinação dos avanços tecnológicos com as antigas estéticas se anima uma valorização das chamadas “baixas culturas” da arte bonequeira medieval, colocando os bonecos em um patamar de “elemento cultural, espiritual e educacional” (BELL, 2005, p. 54). Na virada no século 19, linhas e estudos de metodologias pedagógicas propõem atividades que estimulem a coordenação motora e a logicidade, e formas e técnicas do teatro de bonecos são incorporadas nesses ensinos.
Narrativa no teatro, na sala de aula e na televisão
No teatro, em relação à América do Norte, Bell (2005) identifica ainda uma segunda onda de renovação visual e narrativa que, no contexto tanto de entretenimento noturno, aos moldes dos espetáculos de esquetes, quanto de teatro dramático, é aumentada pelas possibilidades da publicidade e da propaganda e pelas conquistas de espaço no meio televisivo, a partir de meados dos anos 1920.
O lúdico da sala de aula, o conforto da sala de estar e a cadeira da sala de espetáculo são espaços e exigem abordagens radicalmente diferentes, mas em quaisquer de seus usos se faz necessária a construção de enredos e de decisões técnicas e estéticas, que seduzam e convençam público, plateia, audiência, telespectador, ou mais recentemente, internauta, a permanecer atento e muitas vezes dar algo em troca, um riso, uma curtida, um dólar.
“A estética e o lúdico têm em comum o fato de serem a sua própria finalidade, inclusive quando comportam finalidades distintas.”
(MORIN, 2002, p. 133)
A magia da televisão é condizente com a mágica dos bonecos, assim como o fascínio do cinema já demonstrara com a animação (bonecos, stopmotion, animatrônicos, CGI e demais revoluções computacionais). Nos palcos, para Amaral (1996, p. 124), há a tendência que funde o ator, a mímica e o teatro de bonecos com as artes plásticas, a música e a cenografia, criando uma nova linguagem, o teatro de animação.
Os infinitos palcos contemporâneos
Uma hibridização das formas animadas que é feita aos moldes das colagens, técnicas e conteúdo em função de resultados narrativos e visuais, apresentados no teatro de bonecos contemporâneo, tendo na ânima a aura dos bonecos, o animus seu manipulador e residindo na animação, de caráter lúdico, está sua interpretação, seu corpo, seu espetáculo.
Nas possibilidades do teatro de bonecos contemporâneo, as condições tecnológicas são acessíveis em termos de iluminação, sonorização e até mesmo maquinaria e o trabalho do ator em cena é evidenciado, muitas das vezes já não se excluindo da cena e operando tanto pela condição de técnica de manipulação quanto da sua interpretação, narrador e personagem.
Para os envolvidos, o processo criativo e as dramaturgias também se apresentam híbridas, abarcando as práticas do cinema, das artes visuais, da arquitetura e, ainda, do resgate de procedimentos antigos em todas estas linguagens. As barreiras entre dimensões e formatos se diluem no milênio – de bonecos gigantes altamente articulados a pequenas formas montadas em massa de modelar, uma vez que o palco volta a ser a praça pública ou a tela de um celular.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas animadas: máscaras, bonecos e objetos. São Paulo: EDUSP, 1996.
AMARAL, Ana Maria. Teatro de animação: da teoria à prática. Cotia: Ateliê Editorial, 2007.
BELL, John (org.). Puppets, masks and performing objects. Cambridge: TDR Book, 2001.
BELL, John (org.). Strings, hands and shadows: a modern puppet history. Detroit: Wayne State University, 2005.
MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2002.
SITES
Transformações na Poética da Linguagem do Teatro de Animação: https://formasanimadas.wordpress.com/2011/01/21/transformacoes-na-poetica-da-linguagem-do-teatro-de-animacao/
O ator no teatro de animação contemporâneo: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27156/tde-19112010-090333/publico/5848057.pdf
Formação no Teatro de Animação contemporâneo – encenação e processos de criação: https://www.revistas.udesc.br/index.php/moin/issue/view/719
SOBRE O PROJETO IMAGENS MARIONETÁVEIS
O projeto IMAGENS MARIONETÁVEIS – O TEATRO DE BONECOS NA TELEVISÃO DO RS é uma realização da artista visual, jornalista e produtora cultural Yara Baungarten e apresenta uma série de postagens para a internet sobre produção de teatro de bonecos para a televisão gaúcha, desde os anos 1970 até hoje. Trata-se de um passeio pela história do teatro de bonecos e da televisão, com os principais grupos e companhias envolvidas, as técnicas de manipulação mais utilizadas nos programas e os formatos televisivos.

A série de dez publicações digitais pode ser acompanhada, entre 05 a 26 de outubro de 2020, às segundas, quartas e sextas-feiras, através do Instagram e Facebook de Yara Baungarten (@yarabaungarten). A última publicação será um e-book, resultado da compilação de todo o material, também chamado IMAGENS MARIONETÁVEIS – O TEATRO DE BONECOS NA TELEVISÃO DO RS, disponível no site www.imaginaconteudo.com.
Este trabalho conta com o financiamento do Edital FAC DIGITAL RS. Facebook: @RS.sedac, @feevale e @feevaletechpark. Instagram: @sedac_rs, @feevale e @feevaletechpark. Site: www.cultura.rs.gov.br, www.feevale.br e www.feevaletechpark.com.br.